quinta-feira, 15 de março de 2018

Como nascem os paradigmas



As mudanças do paradigma educacional

Nas últimas décadas, muitas foram às inovações, as descobertas, os produtos e os processos que a ciência e a tecnologia colocaram à disposição da sociedade. Estas configuraram novas formas de compreensão do homem, da sociedade, e estabeleceu novas formas de relações, o que repercutiu numa crise paradigmática (modelo, padrão, norma).

Ao delimitar o campo dessa crise, percebe-se que não se trata apenas de uma crise dos paradigmas – algo que já ocorreu algumas vezes no decorrer da história da humanidade, mas sim, de uma crise de paradigma, exigindo das pessoas outro tipo de posicionamento, de referenciais necessários ao subsídio para a compreensão da realidade e da possibilidade de intervenção.

Nos entremeados dessa crise percebe-se claramente alguns movimentos. O primeiro movimento é o da produção das relações sociais mundiais estabelecidas ao longo do desenvolvimento do processo capitalista, que tem como resultado uma disputa hegemônica.

Um movimento é Intercambiado pela inserção do computador e das Tecnologias de Comunicação e Informação (TCIs), que chama atenção pela rapidez e demanda com que a sociedade tem utilizado estes recursos em seu benefício. E o outro movimento diz respeito às repercussões sociais, filosóficas, antropológicas e culturais dos dois movimentos o que, por sua vez, instaura e mobiliza um ciclo dialético entre eles.

Refletindo sobre os novos paradigmas educacionais encontramos os pilares estabelecidos pelo relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, coordenado por Jacques Delors, em 1998.

Ele estabelece sete princípios indispensáveis à educação mediante as novas demandas de uma educação das crianças e adolescentes para o futuro, são eles:

* as cegueiras do conhecimento – o erro e a ilusão,

* os princípios do comportamento pertinente,

* ensinar a condição humana,

* ensinar a identidade terrena,

* enfrentar as incertezas,

* ensinar a compreensão e

* a ética do gênero humano.

Numa perspectiva global e inclusiva, iremos defender a ideia de que a educação deveria tratar toda sociedade e toda cultura sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura.

Para cada reflexão, apresentaremos uma dimensão de que todos os princípios definem eixos educacionais, baseando-se nos pilares para aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer.

I - Na primeira reflexão vamos enfocar a necessidade de uma educação que introduza e desenvolva estudos acerca das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, dos seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que conduzem ao erro ou à ilusão. Uma educação que tem por objetivo construir conhecimentos não pode ficar omissa a fazer conhecer o que é conhecer.

II - Outra questão discutida é o problema da supremacia do conhecimento fragmentado para compreensão dos problemas de ordem global e fundamental. Em análise a esta concepção devemos substituí-la por uma forma de conhecimento capaz de aprender o objeto em sua totalidade e complexidade.

III - E ainda iremos impor o terceiro eixo que impõe à educação o reconhecimento do homem em suas condições física, biológica, psíquica, cultural, social e histórica. Nesse sentido, apresentamos uma maneira para reunir e organizar os conhecimentos dispersos nas várias áreas do conhecimento produzidos pela humanidade, especificamente, nas ciências humanas, na natureza, na literatura e na filosofia.

IV - A quarta dimensão percebe o homem como um ser planetário, cuja construção da identidade terrena é cada vez mais relevante para preservação não apenas do planeta, mas também para a sobrevivência do homem nele. Portanto, todos e tudo que constitui o planeta fazem parte de um todo que mantém equilibrados os sistemas na Terra.

V - Baseado na instabilidade gerada pelas incertezas que insurgiram com o desenvolvimento e as descobertas das ciências físicas e da evolução biológica, enfocaremos a quinta perspectiva. A escola deveria ensinar ao homem os princípios de que ele precisaria diante do inesperado, da incerteza e do imprevisto.

Ao considerar que a educação atual não promove a compreensão, fica evidenciado que a escola termina por acentuar problemas como racismo, xenofobia e desprezo. O desenvolvimento da compreensão eclode numa reforma das mentalidades do pensamento humano, constituindo esta questão a sexta reflexão.

Finalmente evidencia a necessidade de uma educação antropoética, baseado no princípio de que a condição humana é simultaneamente constituída pelas relações indivíduo/sociedade/espécie.

Ressaltamos, entretanto, que esta proposta não pode ser orientada por meio de lições morais, mas da formação da consciência dos indivíduos acerca da sua tripla condição e da importância do conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de que pertencem à espécie humana.

Orientando olhar para o que ocorre dentro do espaço escolar, a nova realidade exige a estruturação de uma nova abordagem teórica, política, cultural e transdisciplinar.

Esta, por sua vez, deve mobilizar a organização de novas diretrizes políticas e estruturais voltadas para a definição e construção de novos ambientes de aprendizagem que possibilitem a formação dos indivíduos em sua condição integral e preparados para atender no futuro às demandas de sua geração.
Para muitos estudiosos a inserção do computador e das novas tecnologias da informação e da comunicação é defendida, conjuntamente, como um meio catalisador de uma mudança do paradigma educacional.

Capaz de promover o desenvolvimento de um novo sistema de pensamento, convivência, comunicação e ação sociocultural, este sistema tecnológico infere, diretamente, sobre as relações entre os homens, no seu trabalho e sua inteligência.

Com base nas abordagens defendidas por Pierre Levy, Gouvêa (2007) explicita que a informática e as tecnologias da comunicação e informação introduzem na sociedade um novo tipo de pensamento, em que o conhecimento constitui uma nova estrutura e características:

1          -Função operacional em tempo real, contrário ao tempo circular da oralidade e ao tempo linear das sociedades da escrita;

2          -Modelo digital, que não é lido ou interpretado como um texto clássico, sendo explorado de forma interativa; neste modelo o conhecimento é plástico, dinâmico, dotado de certa autonomia de ação e de reação;

3          -Possibilita um relacionamento, sua estrutura textual em camadas e janelas, permite um aprofundamento de conhecimento;

4          -Introdução do conhecimento por simulação. A simulação por computador permite à pessoa a exploração de modelos mais complexos e em maior número do que se estivesse reduzida aos recursos de sua memória ou imaginação.

Nesta perspectiva, a construção do processo de ensino e aprendizagem, estruturado sob meios mais eficientes, dinâmicos e modernos, pode proporcionar a estruturação de uma proposta não fragmentada, ou seja, completa do currículo utilizado pela escola.

Entretanto, apesar das dimensões apontadas viabilizarem mudança no contexto do sistema educacional e da escola, no exercício de função na formação dos cidadãos do futuro, elas não esgotam os efeitos da crise paradigmática educacional.

É importante considerar que outras razões mobilizam o contexto de uma mudança paradigmática na educação, pois esta não se limita apenas à expansão e diversidade material dos recursos tecnológicos para viabilizar o uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos específicos na sala de aula.

Além da necessidade de definição e execução de uma política específica de monitoramento do processo de informatização da escola, é essencial a reestruturação da proposta pedagógica, a organização de um sistema de formação continuada para os professores e o acompanhamento do trabalho realizado pelos alunos durante o processo educativo.

Sandhholtz et al. (1997) enfatizam que as mudanças relativas ao processo de reorganização das escolas, frente ao uso de novas tecnologias educacionais no processo de ensino e aprendizagem, apenas foram iniciadas.

Para os autores, a superação desta crise remete à necessidade de um profissional em educação que esteja e se mantenha qualificado para responder, com rapidez e competência, às necessidades de uma sociedade informatizada.

Ao professor, fica a responsabilidade, por meio de sua ação pedagógica, de colocar em prática os parâmetros referenciais voltados para as demandas democratizantes e inclusiva, adotadas, socialmente, na formação de cidadãos autônomos, competentes e reflexivos.

Desta forma, seria possível oferecer condições para construção de fato de um novo referencial pedagógico, possibilitando o redimensionamento do cotidiano escolar, construindo a “ressignificação” das linguagens, dos espaços e tempos utilizados para ensinar e para aprender.

Essa ressignificação pode viabilizar para o professor a estruturação de novas representações ou mesmo a transformação de representações que possui sobre o processo de ensino, de aprendizagem e a informática na educação.

Neste contexto, as instituições educacionais assumem de um lado uma parcela da responsabilidade para preparar a população, tornando-a apta e competente para consumir as tecnologias e utilizar os serviços que ela pode oferecer. Por outro lado, a escola não pode perder de vista a sua função como agente de construção e aprendizagem dos conhecimentos produzidos pela sociedade.

Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/as-mudancas-do-paradigma-educacional/65254



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