As
mudanças do paradigma educacional
Nas
últimas décadas, muitas foram às inovações, as descobertas, os produtos e os
processos que a ciência e a tecnologia colocaram à disposição da sociedade.
Estas configuraram novas formas de compreensão do homem, da sociedade, e
estabeleceu novas formas de relações, o que repercutiu numa crise paradigmática
(modelo, padrão, norma).
Ao
delimitar o campo dessa crise, percebe-se que não se trata apenas de uma crise
dos paradigmas – algo que já ocorreu algumas vezes no decorrer da história da
humanidade, mas sim, de uma crise de paradigma, exigindo das pessoas outro tipo
de posicionamento, de referenciais necessários ao subsídio para a compreensão
da realidade e da possibilidade de intervenção.
Nos
entremeados dessa crise percebe-se claramente alguns movimentos. O primeiro
movimento é o da produção das relações sociais mundiais estabelecidas ao longo
do desenvolvimento do processo capitalista, que tem como resultado uma disputa
hegemônica.
Um
movimento é Intercambiado pela inserção do computador e das Tecnologias de
Comunicação e Informação (TCIs), que chama atenção pela rapidez e demanda com
que a sociedade tem utilizado estes recursos em seu benefício. E o outro
movimento diz respeito às repercussões sociais, filosóficas, antropológicas e
culturais dos dois movimentos o que, por sua vez, instaura e mobiliza um ciclo
dialético entre eles.
Refletindo
sobre os novos paradigmas educacionais encontramos os pilares estabelecidos
pelo relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI,
coordenado por Jacques Delors, em 1998.
Ele
estabelece sete princípios indispensáveis à educação mediante as novas demandas
de uma educação das crianças e adolescentes para o futuro, são eles:
*
as cegueiras do conhecimento – o erro e a ilusão,
*
os princípios do comportamento pertinente,
*
ensinar a condição humana,
*
ensinar a identidade terrena,
*
enfrentar as incertezas,
*
ensinar a compreensão e
*
a ética do gênero humano.
Numa
perspectiva global e inclusiva, iremos defender a ideia de que a educação
deveria tratar toda sociedade e toda cultura sem exclusividade nem rejeição,
segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura.
Para
cada reflexão, apresentaremos uma dimensão de que todos os princípios definem
eixos educacionais, baseando-se nos pilares para aprender a ser, a fazer, a
viver juntos e a conhecer.
I
- Na primeira reflexão vamos enfocar a necessidade de uma educação que
introduza e desenvolva estudos acerca das características cerebrais, mentais,
culturais dos conhecimentos humanos, dos seus processos e modalidades, das
disposições tanto psíquicas quanto culturais que conduzem ao erro ou à ilusão.
Uma educação que tem por objetivo construir conhecimentos não pode ficar omissa
a fazer conhecer o que é conhecer.
II
- Outra questão discutida é o problema da supremacia do conhecimento
fragmentado para compreensão dos problemas de ordem global e fundamental. Em
análise a esta concepção devemos substituí-la por uma forma de conhecimento
capaz de aprender o objeto em sua totalidade e complexidade.
III
- E ainda iremos impor o terceiro eixo que impõe à educação o reconhecimento do
homem em suas condições física, biológica, psíquica, cultural, social e
histórica. Nesse sentido, apresentamos uma maneira para reunir e organizar os
conhecimentos dispersos nas várias áreas do conhecimento produzidos pela
humanidade, especificamente, nas ciências humanas, na natureza, na literatura e
na filosofia.
IV
- A quarta dimensão percebe o homem como um ser planetário, cuja construção da
identidade terrena é cada vez mais relevante para preservação não apenas do
planeta, mas também para a sobrevivência do homem nele. Portanto, todos e tudo
que constitui o planeta fazem parte de um todo que mantém equilibrados os
sistemas na Terra.
V
- Baseado na instabilidade gerada pelas incertezas que insurgiram com o
desenvolvimento e as descobertas das ciências físicas e da evolução biológica,
enfocaremos a quinta perspectiva. A escola deveria ensinar ao homem os
princípios de que ele precisaria diante do inesperado, da incerteza e do
imprevisto.
Ao
considerar que a educação atual não promove a compreensão, fica evidenciado que
a escola termina por acentuar problemas como racismo, xenofobia e desprezo. O
desenvolvimento da compreensão eclode numa reforma das mentalidades do
pensamento humano, constituindo esta questão a sexta reflexão.
Finalmente
evidencia a necessidade de uma educação antropoética, baseado no princípio de
que a condição humana é simultaneamente constituída pelas relações
indivíduo/sociedade/espécie.
Ressaltamos,
entretanto, que esta proposta não pode ser orientada por meio de lições morais,
mas da formação da consciência dos indivíduos acerca da sua tripla condição e
da importância do conjunto das autonomias individuais, das participações
comunitárias e da consciência de que pertencem à espécie humana.
Orientando
olhar para o que ocorre dentro do espaço escolar, a nova realidade exige a
estruturação de uma nova abordagem teórica, política, cultural e
transdisciplinar.
Esta,
por sua vez, deve mobilizar a organização de novas diretrizes políticas e
estruturais voltadas para a definição e construção de novos ambientes de
aprendizagem que possibilitem a formação dos indivíduos em sua condição
integral e preparados para atender no futuro às demandas de sua geração.
Para
muitos estudiosos a inserção do computador e das novas tecnologias da
informação e da comunicação é defendida, conjuntamente, como um meio
catalisador de uma mudança do paradigma educacional.
Capaz
de promover o desenvolvimento de um novo sistema de pensamento, convivência,
comunicação e ação sociocultural, este sistema tecnológico infere, diretamente,
sobre as relações entre os homens, no seu trabalho e sua inteligência.
Com
base nas abordagens defendidas por Pierre Levy, Gouvêa (2007) explicita que a
informática e as tecnologias da comunicação e informação introduzem na
sociedade um novo tipo de pensamento, em que o conhecimento constitui uma nova
estrutura e características:
1 -Função operacional em tempo real,
contrário ao tempo circular da oralidade e ao tempo linear das sociedades da
escrita;
2 -Modelo digital, que não é lido ou
interpretado como um texto clássico, sendo explorado de forma interativa; neste
modelo o conhecimento é plástico, dinâmico, dotado de certa autonomia de ação e
de reação;
3 -Possibilita um relacionamento, sua
estrutura textual em camadas e janelas, permite um aprofundamento de
conhecimento;
4 -Introdução do conhecimento por
simulação. A simulação por computador permite à pessoa a exploração de modelos
mais complexos e em maior número do que se estivesse reduzida aos recursos de
sua memória ou imaginação.
Nesta
perspectiva, a construção do processo de ensino e aprendizagem, estruturado sob
meios mais eficientes, dinâmicos e modernos, pode proporcionar a estruturação
de uma proposta não fragmentada, ou seja, completa do currículo utilizado pela
escola.
Entretanto,
apesar das dimensões apontadas viabilizarem mudança no contexto do sistema
educacional e da escola, no exercício de função na formação dos cidadãos do
futuro, elas não esgotam os efeitos da crise paradigmática educacional.
É
importante considerar que outras razões mobilizam o contexto de uma mudança
paradigmática na educação, pois esta não se limita apenas à expansão e
diversidade material dos recursos tecnológicos para viabilizar o uso das
tecnologias no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos específicos na
sala de aula.
Além
da necessidade de definição e execução de uma política específica de
monitoramento do processo de informatização da escola, é essencial a
reestruturação da proposta pedagógica, a organização de um sistema de formação
continuada para os professores e o acompanhamento do trabalho realizado pelos
alunos durante o processo educativo.
Sandhholtz
et al. (1997) enfatizam que as mudanças relativas ao processo de reorganização
das escolas, frente ao uso de novas tecnologias educacionais no processo de
ensino e aprendizagem, apenas foram iniciadas.
Para
os autores, a superação desta crise remete à necessidade de um profissional em
educação que esteja e se mantenha qualificado para responder, com rapidez e
competência, às necessidades de uma sociedade informatizada.
Ao
professor, fica a responsabilidade, por meio de sua ação pedagógica, de colocar
em prática os parâmetros referenciais voltados para as demandas democratizantes
e inclusiva, adotadas, socialmente, na formação de cidadãos autônomos,
competentes e reflexivos.
Desta
forma, seria possível oferecer condições para construção de fato de um novo
referencial pedagógico, possibilitando o redimensionamento do cotidiano
escolar, construindo a “ressignificação” das linguagens, dos espaços e tempos
utilizados para ensinar e para aprender.
Essa
ressignificação pode viabilizar para o professor a estruturação de novas
representações ou mesmo a transformação de representações que possui sobre o
processo de ensino, de aprendizagem e a informática na educação.
Neste
contexto, as instituições educacionais assumem de um lado uma parcela da
responsabilidade para preparar a população, tornando-a apta e competente para
consumir as tecnologias e utilizar os serviços que ela pode oferecer. Por outro
lado, a escola não pode perder de vista a sua função como agente de construção
e aprendizagem dos conhecimentos produzidos pela sociedade.
Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/as-mudancas-do-paradigma-educacional/65254
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